Construção, crescimento pode chegar a 3,2% em 2021

Apesar do clima de imprevisibilidade que a pandemia trouxe à atividade económica, se existe setor que resistiu e quase nunca parou, foi o da construção civil. Os representantes do setor, arriscam uma previsão média de crescimento, de 2,2% para 2021, podendo mesmo chegar a 3,2% na perspetiva mais otimista.

O comunicado agora divulgado pela AECOPS (Associação de Empresas de Construção, Obras Públicas e Serviços) e da AICCOPN (Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas), na Análise da Conjuntura da Construção de Janeiro, prevê que a atividade do setor da Construção mantenha uma evolução globalmente positiva, sendo que o intervalo de previsão aponta para uma taxa de crescimento real entre 1,2% e 3,2%, com um valor médio de +2,2%, valor ligeiramente inferior ao crescimento de 2,5% estimado para 2020.

Previsão de crescimento para 2021 no setor da construção, segundo a AECOPS e a AICCOPN

Esta perspetiva positiva baseia-se na generalidade das previsões divulgadas pelas principais entidades nacionais e internacionais, que preveem que Portugal deverá regressar a uma trajetória de crescimento a partir de 2021, apesar do contexto de incerteza provocado pela pandemia e consequente impacto na economia nacional.

Segundo as projeções do Banco de Portugal, a economia portuguesa deverá crescer +3,9% em 2021 e +4,5% em 2022, após a quebra de -7,6% do PIB estimada pelo INE para 2020.

Segundo dados do banco central, na semana centrada em 4 de fevereiro de 2021, os dados disponíveis apontam para uma contração homóloga da atividade económica de -4,5%, que contrasta positivamente com os -7,2% da semana anterior.

Construção residencial: previsão de quebra de -1%

Apesar da previsão globalmente positiva, no segmento da construção dedicado ao mercado da habitação, prevê.se uma quebra global em torno dos -1%. Tal surge em contraciclo com o crescimento observado em 2020, quando se verificou um nível elevado na procura nacional e internacional, sendo uma das causas o enquadramento macroeconómico marcado por taxas de juro historicamente baixas.

As previsões para 2021 apontam agora para uma variação da produção entre -2% e 0%, com o ponto médio do intervalo a situar-se em -1,0%.

Segundo o relatório:

Esta interrupção da trajetória de crescimento iniciada em 2014 deve-se, essencialmente, a um elevado nível de incerteza que poderá conduzir ao abrandamento de investimentos já previstos, bem como ao impacto da quebra ocorrida no licenciamento de obras pelas Câmaras Municipais.
Efetivamente, até novembro de 2020 assistiu-se a uma redução do número de fogos licenciados em construções novas de 1,3%, e nas obras de reabilitação de edifícios residenciais a redução é de 8,1%, em termos homólogos.

Saliento que, para mim, a forte dinâmica na construção de novas habitações registadas no ano passado, foi um dos fatores que mais contribuiu para atenuar o impacto da pandemia na atividade de mediação imobiliária. Oeiras foi o município em que esta realidade teve mais impacto no meu volume total de transações, durante o ano de 2020.

Construção não residencial: riscos de um agravamento

No que diz respeito à construção não residencial, prevê-se que a produção registe uma quebra mais intensa que a de 2020, entre -2,1% e 0,1%, que se traduz numa quebra média de -1,1%, que compara com a quebra de -0,5% em 2020.

Segundo o relatório:

Na base deste decréscimo previsto para a evolução da produção de novos espaços não residenciais privados está o indicador relativo às áreas licenciadas por destino de edifício, que, na globalidade, diminuiu 4,7% até outubro de 2020, o que corresponde a uma redução em termos absolutos de 106,3 mil m2 face ao mesmo período do ano anterior, com decréscimos significativos nas áreas licenciadas em edifícios destinados à indústria, turismo, transportes e uso geral.

Engenharia civil duplica crescimento em 2021

No que diz respeito ao segmento da engenharia civil, prevê-se que 2021 seja um ano marcadamente positivo, prevendo-se para 2021 a duplicação da taxa de crescimento em +6,0%, contra os +3,0% estimados para 2020.

A AICCOPN e a AECOPS baseiam o seu otimismo nas seguintes causas:

O reforço do peso do investimento público no PIB (de 2,5% em 2020 para 2,9% em 2021, segundo as previsões da Comissão Europeia), em resultado da esperada execução dos fundos comunitários inscritos no Portugal 2020 e do expressivo aumento dos montantes de empreitadas de obras públicas promovidos e celebrados em 2020, fundamenta uma expectativa de um comportamento favorável do segmento da engenharia civil em 2021. 

As associações destacam também o valor global dos 11 mil contratos de empreitadas de obras públicas celebrados ao longo de 2020 (registados no Portal Base até 31 de dezembro), cujo montante global rondou os 3,1 mil milhões de euros, o que corresponde a um aumento de +10,1% em número e +32,9% em valor, face aos totais apurados em 2019.

Produção na construção termina 2020 com queda de -3,5%

Este comunicado, surge no momento em que o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou os números relativamente à produção na construção em 2020. No mês de Dezembro observou-se uma quebra de -2,5% face ao mês homólogo de 2019, contribuindo para uma queda global de -3,5% relativo a todo o ano de 2020.

Recordo que em 2019, o Índice de Produção na Construção divulgado pelo INE registou um crescimento de +2,7%.

O segmento da construção de edifícios, foi o que mais se ressentiu com uma quebra de -3,4% face ao mês homólogo de 2019. O segmento de engenharia civil viu os números negativos de Novembro agravarem-se em Dezembro, com uma descida de -1,1%.

Em Dezembro, o índice de emprego neste setor registou uma variação homóloga de -0,1%, contribuindo para uma quebra global de -0,5% em todo o ano de 2020, que compara com um aumento de -2,2% em 2019. Estes números demonstram que o setor da construção, apesar de tudo, está a conseguir resistir melhor quando comparado com os restantes setores da economia nacional.

Resiliência é a palavra de ordem para o setor da construção

Segundo outro estudo agora revelado pelo Banco de Portugal (relativo ao período de 2006~2018), o setor da construção tem custos fixos operacionais (em percentagem das vendas) mais baixos do que a média global da atividade económica. Estes números são especialmente importantes na atual situação de pandemia e crise económica, pois indiciam uma maior capacidade das empresas do setor fazerem face a uma queda abrupta nas vendas.

Custos fixos operacionais por setor de atividade

Resumindo, a leitura das principais associações do setor é moderadamente otimista, deixando contudo uma porta aberta para possíveis surpresas positivas. 2021 vai ser um ano em que a resiliência será a palavra de ordem, em que resistir é a primeira etapa para poder crescer!

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