Era assim que Luís de Camões se lhe referia. Para o mote da campanha de marketing do mês de Fevereiro que agora terminou, escolhi a sorte como elemento inspirador, porque considero que este é um tema que nos define, enquanto portugueses. A sorte, que pode ser usada em diferentes contextos, significa:
Sorte: é um substantivo que pode significar destino, fado, ou um acontecimento casual, que pode ser bom ou mau.
Ou seja, por definição, a sorte resulta da casualidade, donde não é possível prevê-la ou explicá-la e pode ser boa, ou pode ser má.
E é por isso que a nossa História sempre se fez acompanhar destes 2 parceiros ideais: a má sorte, porque lhe podemos atribuir a culpa do que corre menos bem e a boa sorte porque nos define como um povo que tem a competência e o mérito de a atrair, adiando assim o caminho do trabalho árduo.
Partindo de um substantivo abstracto, conseguimos criar algo que podemos apelidar de entidade metafísica, que se situa algures entre a figura de um Deus que vela por nós e a de um Diabo que não pára de se atravessar no nosso caminho. E este tem sido o fado que nos persegue a nós portugueses, desde os primeiros tempos em que, segundo a lenda:
"D. Afonso Henriques começou por ser um bebé com pouca sorte: nasceu com as pernas tortas, para grande tristeza de seu pai. Apesar disso, Egas Moniz ofereceu-se para ser o aio do menino. Uma noite, a Virgem Maria apareceu-lhe em sonhos e disse-lhe que levasse o pequeno Afonso à igreja de Cárquere e o deitasse no altar. Egas Moniz assim fez e o menino curou-se... teve sorte!"
Para cada evento desafortunado soubemos "sempre adicionar uma pitada de boa ou má sorte" conseguindo com isso ofuscar a essência do problema. Até no amor encontrámos forma de a invocar. Assim declamava Camões: Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente.
Dom Manuel foi cognominado de “O Venturoso”. Parece que em matéria de reinado tudo lhe corria bem: "Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia, Pedro Álvares Cabral anunciou a descoberta oficial do Brasil e Afonso de Albuquerque dominou a Índia e trouxe para Portugal o monopólio do comércio das especiarias."
Já D. Sebastião teve sempre azar. A começar pela derrota em Alcácer-Quibir, até recentemente, quando aquele rapaz ali na estação do Rossio, se encostou à estátua do malogrado rei e se estatelou a si próprio e à dita, no meio do chão. Teve azar!
Fernando Pessoa, para quem a Pátria era a língua portuguesa, tinha a suficiente distância do País para a radiografar e lhe dedicar um poema elucidativo:
As coisas que errei na vida
São as que acharei na morte,
Porque a vida é dividida
Entre quem sou e a sorte.As coisas que a Sorte deu
Levou-as ela consigo,
Mas as coisas que sou eu
Guardei-as todas comigo.E por isso os erros meus,
Sendo a má sorte que tive,
Terei que os buscar nos céus
Quando a morte tire os véus
À inconsciência em que estive.
No nosso tempo, a sorte continua a fazer as honras da casa. Um pouco por todo lado. Preferimos desculpar-nos com a falta dela, do que assumir que algo podia ter sido melhor planeado ou executado.
Se calhar já há era tempo de lhe fazermos um enterro bonito e focar-mo-nos em nós e não na sorte, ou na falta dela.
Para um consultor imobiliário a sorte é o seu pior amigo e para quem quer vender a sua casa, ainda mais.
Se em relação ao primeiro, a esperança e a fé de que a sorte há-de mudar, adia o essencial que passa pela definição de uma estratégia de médio-longo prazo, a qual deve começar por um plano de trabalho em relação à angariação e promoção dos seus imóveis. Identificando áreas e produtos preferenciais de angariação, definindo um conjunto de tarefas de marketing consistente e persistente. Apostando no marketing pessoal e nas novas tendências de promoção digital. Construindo uma teia de ligações alicerçada no trabalho sistemático de acompanhamento e follow-up das leads, etc. etc.
Já em relação ao segundo (o proprietário), ao acreditar que o seu imóvel tem um preço de mercado idêntico ao valor emocional que lhe atribui, perde tempo e frustra as suas expectativas iniciais, desgastando a relação com os sucessivos mediadores. Enquanto isso continua a acreditar que a sorte há-de mudar...
Pois eu acredito antes no lema de Coleman Fox:
Sou um grande crente na sorte e tenho constatado que, quanto mais árduo é o meu trabalho, mais sorte eu tenho.