Sabia que Portugal é um dos países da Europa onde mais pessoas tem casa própria? É verdade! Essa paixão pela telha e pelo quintal vai muito além do sonho da casinha. Mas porquê? E o que isso significa para o futuro? Vamos analisar um pouco deste tema.
Segundo dados recentes do Eurostat, cerca de 77% das famílias portuguesas são proprietárias das suas casas. Este número impressionante coloca-nos bem acima da média europeia, que ronda os 69%. Mas como chegámos até aqui e o que nos reserva o futuro? Vamos explorar!
Estatísticas e Comparações
Quando comparamos Portugal com outros países europeus, a diferença é assinalável. Enquanto a média da taxa de proprietários na União Europeia, em 2023, era de cerca de 70%, em Portugal este valor era de 76%. Países como a Alemanha e a França, com economias mais ricas, apresentam taxas inferiores. A tabela abaixo ilustra essa diferença:
Percentagem de Proprietários e Arrendatários na Europa, em 2023
País | Proprietários (%) | Arrendatários (%) |
---|---|---|
Roménia | 95,6 | 4,4 |
Eslováquia | 93,6 | 6,4 |
Croácia | 91,2 | 8,8 |
Hungria | 90,5 | 9,5 |
Lituânia | 88,8 | 11,2 |
Polónia | 87,3 | 12,7 |
Bulgária | 86,1 | 13,9 |
Letónia | 82,8 | 17,2 |
Estónia | 80,7 | 19,3 |
Noruega | 79,2 | 20,8 |
Chéquia | 76,0 | 24,0 |
Portugal | 76,0 | 24,0 |
Espanha | 75,3 | 24,7 |
Itália | 75,2 | 24,8 |
Eslovénia | 75,2 | 24,8 |
Malta | 74,7 | 25,3 |
Bélgica | 71,9 | 28,1 |
Grécia | 69,6 | 30,4 |
Irlanda | 69,4 | 30,6 |
Países Baixos | 69,3 | 30,7 |
União Europeia | 69,2 | 30,8 |
Finlândia | 69,2 | 30,8 |
Chipre | 68,8 | 31,2 |
Luxemburgo | 67,6 | 32,4 |
Suécia | 64,9 | 35,1 |
França | 63,1 | 36,9 |
Dinamarca | 60,0 | 40,0 |
Turquia | 56,2 | 43,8 |
Áustria | 54,3 | 45,7 |
Alemanha | 47,6 | 52,4 |
Suíça | 42,6 | 57,4 |
Para termos uma ideia mais clara, importa analisar alguns casos:
- Portugal: 76% das famílias possuem casa própria.
- Espanha: 75%, um valor semelhante a Portugal. As similaridades culturais, politicas e económicas contribuem para tal
- Alemanha: Apenas 48%, destacando-se como um dos países com mais arrendatários.
- Itália: 75% dos italianos são proprietários, confirmando esta tendência nos chamados países do Sul da Europa.
- França: Os franceses, para além de terem uma taxa mais baixa (63%), têm uma oferta maior de casas municipais e números elevados no arrendamento.
- Média da UE: 69% dos europeus têm casa própria.
Apesar da crise financeira de 2008 e do recente aumento do custo de vida, os portugueses continuam a preferir ser proprietários, mesmo que isso implique comprometer uma boa parte do orçamento familiar, durante longos períodos (até 30 anos)
Causas Históricas e Culturais
Mas por que é que os portugueses têm esta “paixão” pela compra de casa? As razões são muitas e vão desde motivações históricas até à mentalidade cultural:
- Políticas públicas após o 25 de Abril: Nos anos 80 e 90, o acesso ao crédito foi facilitado. A banca oferecia empréstimos com condições muito atrativas, a que se somavam as bonificações do Estado, promovendo a compra de habitação própria.
- Cultura de segurança: Comprar casa é visto como uma forma de estabilidade e segurança. Muitos portugueses acreditam que “mais vale pagar a prestação ao banco do que renda ao senhorio”.
- Falta de alternativas no arrendamento: Durante décadas, o mercado de arrendamento em Portugal esteve estagnado (e ainda continua de forma parcial) devido a contratos de renda antigos e pouco lucrativos para os senhorios, bem como a regras e regulações que impedem o funcionamento do mercado.
- Legado rural: Historicamente, as gerações mais velhas tinham o hábito de construir ou herdar casas, especialmente em áreas rurais. Este comportamento perpetuou-se ao longo do tempo.
Tendências Futuras
No entanto, será que este cenário vai manter-se? Há sinais de que algo está a mudar:
- Mercado de arrendamento em crescimento: Nos últimos anos, o arrendamento tem ganho popularidade, especialmente entre os jovens nas grandes cidades como Lisboa e Porto. Tal deve-se em parte ao aumento dos preços das casas e às dificuldades de acesso ao crédito.
- Alterações nas prioridades: As gerações mais novas valorizam mais a mobilidade e a flexibilidade. Comprar casa já não é uma prioridade tão clara como era no passado.
- Aumento dos preços: Os preços das casas têm subido de forma dramática, especialmente devido à procura estrangeira, ao turismo e à imigração, tornando a compra de casa cada vez mais difícil para os portugueses.
- Investimentos institucionais: Empresas e fundos imobiliários estão a investir fortemente no mercado de arrendamento, aumentando a oferta e, potencialmente, tornando-a mais competitiva.
- Aumento da oferta municipal: Segundo a SEDES, apenas 2% do parque habitacional nacional é composto por habitação pública, um valor bem abaixo da média europeia. P.ex., nos Países Baixos, Áustria e Dinamarca, as percentagens de habitação pública ultrapassam os 20%. Com os fundos europeus do Plano de Recuperação e Resiliência, tem havido um grande esforço para aumentar a construção de habitação municipal, com o objetivo de expandir a oferta de arrendamento municipal.
Conclusão
Portugal é, sem dúvida, um país de proprietários, mas as mudanças económicas e culturais estão a reformular este cenário. Enquanto a posse de casa continua a ser uma meta para muitas famílias, a realidade dos preços elevados e das novas prioridades das gerações mais jovens pode levar a um aumento do mercado de arrendamento nos próximos anos.
Quer estejas a pensar em comprar ou arrendar, o importante é planear bem e decidir com base na tua situação financeira e nos teus objetivos de vida. Afinal, casa é onde o coração está, mas também onde as finanças fazem sentido!